sexta-feira, 22 de abril de 2011

ATENCIOSO SILENCIO

LARGO EM SENTIR,EM RESPIRAR SUCINTO
PENO, E CALO TÃO FINO, E ATENTO,
QUE FAZENDO DISFARCE DO TORMENTO
MOSTRO,QUE O NÃO PADEÇO,E SEI,QUE O SINTO.


O MAL,QUE FORA ENCUBRO,OU QUE DESMINTO,
DENTRO NO CORAÇÃO É,QUE O SUSTENTO,
COM QUE PARA PENAR É SENTIMENTO,
PARA NÃO SE ENTENDE É LABIRINTO.

NINGUÉM SUFOCA A VOZ NOS SEUS RETIROS;
DA TEMPESTADE É O ESTRONDO EFEITO:
LÁ TEM ECOS A TERRA, O MAR SUSPIROS.

MAS OH DO MEU SEGREDO ALTO CONCEITO!
POIS NÃO ME CHEGAM A VIR à BOCA OS TIROS
DOS COMBATES,QUE VÃO DENTRO DO PEITO.


                                                          POESIA DE GREGÓRIO DE MATOS(1636?-1696)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

As três ecologias - "Ilha das flores" "História das coisas"

Tomando como ponto inicial as profundas mudanças ocorridas na sociedade moderna, Felix Guattari expõe em sua obra “As três ecologias” a preocupação pelos aspectos mais humanos que influenciam direta ou indiretamente na deterioração da sociedade e do meio ambiente, começa salientando que se os fenômenos de desequilíbrios ecológicos não forem remediados, no limite, ameaçam a implantação da vida em sua superfície. Ele registra as três ecologias – a do meio ambiente, a das relações sociais e a da subjetividade humana, manifestando sua indignação perante o mundo que se deteriora lentamente.

Faz-nos refletir sobre se haverá resposta à crise ecológica, salientando que somente poderá ocorrer se for operada uma autentica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais.

Os “aspectos mais humanos” referem-se às características psicológicas inerentes ao homo sapiens que se encontram na raiz dos problemas ecológicos e sociais do nosso planeta. Como exemplos desses arquétipos da psique humana, temos: o instinto de violência, a vontade de dominação e todo padrão psicológico que nos afaste da afeição à vida.

A partir de meditações sobre como o lado “obscuro” da subjetividade do homem encontra-se no cerne de toda a devastação social e ambiental que cada dia nos é mais presente, o autor estabelece, que a Ecologia Ambiental não é a única que deve ser considerada, senão que outras duas, naturalmente interligadas entre si, mostram-se tão importantes quanto a primeira, essas são: a Ecologia Social e a Ecologia Mental. Esta última será levada a reinventar a relação do sujeito com o corpo, com o fantasma, com o tempo que passa, com os mistérios da vida e da morte. Já a ecologia social deverá trabalhar na reconstrução das relações humanas em todos os níveis, ela jamais deverá perder de vista que o poder capitalista se deslocou, se desterritorializou, ao mesmo tempo em extensão ampliando seu domínio sobre o conjunto da vida social, econômica e cultural do planeta.

O conceito de ecologia é assim ampliado, abrangendo as questões que dizem respeito à autodestruição humana de forma mais completa, ressaltando pontos como a necessidade de rever a estrutura das classes sociais, o estabelecimento e cumprimento de regras universais dos direitos humanos, o reconhecimento da interdependência entre os seres e da complexa teia de relações entre eles.

Assim, Guattari manifesta que para buscar a convivência em harmonia com a nossa fonte de recursos limitados (a natureza, o planeta, o universo), primeiramente, devemos canalizar a mente para uma busca de objetivos mais elevados, logo, podendo trabalhar na reconstrução das relações humanas, desde os níveis mais esquecidos até os mais comentados.

Como podemos observar no vídeo a história das coisas que aborda muito bem o processo produtivo sobre tudo que compramos ( de onde vem/ para onde vai), o impacto dos tóxicos e da poluição em nossa saúde e no meio ambiente no decorrer de todo o processo produtivo, fazendo refletirmos e nos questionarmos, como poderemos amenizar tal situação? e nos remetendo também ao que diz Guattari “Não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural, reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais. Esta revolução deverá concernir, portanto, não só às relações de forças visíveis em grande escala, mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo”.

No documentário ilha das flores, o autor mostra de forma contundente como o sistema econômico contribui para as desigualdades sociais e a indiferença com a necessidade alheia. Na narrativa, muitas informações são mostradas, cuja intenção é a de “igualar” o ser humano por meio de descrições que denotam a raça humana. Contudo, mostra o desigual tratamento dado aos “iguais” seres humanos, colocando-os inferiores aos porcos. Mostra um retrato da mecânica da sociedade de consumo, encarando o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho. Como diz Guattari os indivíduos devem se tornar a um só tempo solidários e cada vez mais diferentes.

Pelo exposto, pode-se dizer que as medidas políticas necessárias para a recuperação do nosso planeta e as alternativas para a liberação do homem de sua “implosão”, estão condicionadas às atitudes mentais individuais, e logo, sociais dos cidadãos da “cidade” Terra. O que esta em questão no texto é a maneira de viver daqui em diante em nosso planeta em função das profundas transformações que esta sofrendo e do considerável crescimento demográfico.