A inversão da Situação
Vivemos em uma sociedade hiperindividualista, onde o pensamento está literalmente voltado para o EU. Os termos que foram muito usados no passado, como compartilhar e ajudar o próximo, encontra-se em decadência. Em conseqüência, temos o desamparo, a violência e o adoecimento psicológico, onde muitas pessoas “sem tempo” estão embarcando neste carreto das doenças consideradas modernas.
A extinção dos manicômios rompeu tabus que estabeleciam que pessoas diferentes deveriam permanecer em confinamentos, isoladas da sociedade. Muitos paradigmas vêm sendo quebrados, o que ocasiona uma desestruturação historicamente cultural. Podemos observar a perda da flexibilidade, da criatividade e da harmonia entre os membros integrantes da sociedade e isso vem ocasionando um desencadeamento de discórdia e rupturas sociais. No entanto, as transformações culturais são amplas e inevitáveis, e vêm acontecendo há séculos na forma de ciclos. Não podemos viver isolados desta sociedade contemporânea, pois existe uma mútua dependência. Para Vygotsky, existe uma interação dialética do homem e o seu meio social-cultural, pois, ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo.
Observa-se que o mundo vem registrando um estado de profunda crise mundial tanto no que se refere às dimensões intelectuais, como morais e espirituais. As portas foram abertas para o mundo pela globalização, segundo refere Karl Popper, e este “grau de abertura” da sociedade ganhou um novo brilho. Para Baumann, se a ideia de “sociedade aberta” era compatível com a autodeterminação de uma sociedade livre, agora nos traz à mente experiências aterrorizantes de uma população heterogênea, infeliz e vulnerável. Enfim, entramos corajosamente no viveiro das incertezas (Tempos líquidos p.1-13).
O mal da civilização deste século é o vazio interior, consequente da busca desenfreada da razão sem emoção, do ter, do parecer ser. As pessoas buscam fora o que só encontrarão no seu interior, na suas essências transgeracionais.
A sociedade, em geral, anda muito rápida e os desejos perdem a sua essência, o seu real valor. Já dizia Freud, em sua obra Além do Princípio do Prazer - “um dualismo incontrolável”.
O grande desafio atualmente é aceitar o diferente, pois aceitar o outro como tal é poder nos aceitar com o que temos de diferente. Pelo fato de não sermos totalmente razão, perfeitos e imutáveis, não aceitamos nos desestruturar. Com a revolução tecnológica ficamos totalmente desolados, pois a nossa subjetividade não alcança a compreensão. Muitas são as transformações culturais que vêm ocorrendo e, com isso, como diz Calligaris, ficamos desconcertados ao resgatar a história porque buscamos o sentido do presente não no passado, e sim, no futuro incerto.
Para Fernando Pessoa, “o mundo exterior é uma realidade interior” e, para Lacan, “o inconsciente não é nem individual nem coletivo, ele é O coletivo mesmo”. Não podemos esquecer que fazemos parte deste mundo com a nossa singularidade, a qual é composta de valores, obrigações, censuras, repressões e desejos. Somos iguais a todos os indivíduos que fazem parte deste mundo que chora, ri e aplaude.
Entre grandes mudanças e transformações podemos citar três transições que abalarão os alicerces das nossas vidas e afetarão o sistema social, econômico e político, são elas: o declínio patriarcal (o movimento feminista é uma das mais fortes correntes culturais do nosso tempo), o declínio da era do combustível fóssil (esgotados por volta de 2300) e a “mudança de paradigma” (a crença do método científico, a concepção do universo como um sistema mecânico, a competitividade e o progresso material através do crescimento econômico tecnológico, são valores limitados e necessitam de uma revisão radical.